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  • Foto do escritorFernand Lodi

Exposição (Dis)farce



Régis Gonçalves nasceu no Brasil e viveu na África por alguns anos e realiza mais uma entre tantas exposições bem-sucedidas em Amsterdam.





Sem dúvida, sua propensão como artista em reutilizar e reciclar materiais que outros jogaram fora se originou durante a sua estadia no Continete Africano. Caixas, pedaços de madeira, tecidos, tampas, revistas; alguns itens estão além dessa recriação.


Esses materiais usados não são apenas uma base prática para o seu trabalho (como a recuperação de um pedaço de madeira ou papelão que serão utilizados como “tela” para uma pintura), mas também inspiram o conteúdo de suas criações artísticas.


Uma devota imagem religiosa comprada por um centavo no mercado pode confrontar uma figura pornográfica parcialmente escondida. Seu trabalho exala uma aura desordenada e isso é devido à inclusão desses materiais usados que foram jogados fora por pessoas que os achavam feios ou desagradáveis.


Alguns espectadores podem achar essa aura perturbadora. Mas ao contrário esta desconfortável sensação é muito valiosa. A excitação de tal sentimento é principalmente porque o artista está desafiando e de alguma forma tentando ser transgressor ao dar uma nova vida a materiais que outros parecem ter considerado mortos ou inúteis. Materiais nos quais as emoções e a essência do usuário anterior parecem, de alguma forma, estar presentes.


Nesta exposição de pinturas, colagens e montagens, vê-se que motivos florais são o ponto central. Gonçalves nunca os usa ou retrata diretamente como flores. Certamente não há nenhuma tentativa de seguir a longa tradição holandesa das pinturas de flores, ou melhor dizendo, natureza morta.


Os tecidos com estampas de flores, muitas vezes vistos nas obras de arte presente nesta exposição, referem-se a um tipo de tecido barato, “Chita”, geralmente comprado por pessoas mais pobres no Brasil.


Nestes tecidos de Chita, flores brilhantes e coloridas sugerem num clima positivo. Flores significam cor e cor significa diversão. Em suas pinturas, as flores são reduzidas a formas elementares. Elas são usadas pelo artista como pontos mais claros em uma superfície escura, para destacar os contrastes e para brincar com as nuances das tintas.


Em antigos artigos escrevi sobre o “mundo oculto” de Gonçalves. O artista tende a se esconder atrás de símbolos, cores, formas e máscaras, deixando o espectador com a tarefa de interpretar as suas obras de arte.


No entanto, nesta exposição, há uma mudança. “Autoretratos” figuram em grande parte nesta exposição. Eles são muito expressionistas e, portanto, vagos, mas a persona (negra) representada realmente brilha.


Em dois outros trabalhos de painéis múltiplos, imagens de revistas pornográficas, parcialmente escondidas sob a pintura, são combinadas com flores pintadas e quadros religiosos, também parcialmente pintados.


Em um desses trabalhos de painéis múltiplos, uma caixa de peep show foi colada. É talvez isso uma espécie de um simbólico convite ao espectador para espionar a vida do artista?


Atualmente, Gonçalves não é apenas um artista, mas também um cozinheiro profissional, com diplomas de chefe profissional de cozinha. A princípio, pode parecer uma combinação incomum, mas esta combinação está longe de ser estranha.


Um bom cozinheiro combina todos os tipos de ingredientes e improvisa com eles, dando-lhes uma nova vida; tornando os ingredientes indispensáveis e indistinguíveis. Tentando com isso despertar, aguçar aromas e paladares das pessoas. Um bom chefe faz isso dando dicas, em vez de revelar todo o segredo. O artista Gonçalves faz o mesmo.


Rob Perrée - Amsterdam, 2019




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