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O conforto acústico nos edifícios residenciais: direito ou luxo?


Danielly Garcia possui doutorado em Engenharia de Estruturas pela UFMG (2011) e é proprietária da Sense Acústica e Arquitetura onde atua como arquiteta consultora em acústica. É membro consultor da SOBRAC (Sociedade Brasileira de Acústica)


Quais são os critérios que você usa para escolher um imóvel? Localização, área do apartamento, áreas comuns de lazer, vagas de garagem?


E quais são os critérios de escolha de um carro?


Além de fatores estéticos e de poder de compra, avaliamos primordialmente DESEMPENHO, o consumo do carro, ergonomia, “conforto”... quanto mais luxuoso é um carro, mais opcionais ele oferece e maior seu isolamento térmico, acústico. Mas muitas vezes o mesmo não acontece na compra de um apartamento.


Habitar um imóvel de qualidade não um luxo, é um direito. Desde 2013 está em vigor a norma da ABNT NBR15575 que trata dos “desempenhos mínimos para edifícios residenciais”. Esse tipo de norma já existia nos países mais desenvolvidos e no Brasil é uma vitória para quem projeta e constrói pensando no conforto do morador. Sem falar do próprio morador que ficava a mercê do mercado sem direito ou parâmetro para reclamações construtivas.


A norma de desempenho fala de critérios mínimos de segurança, habitabilidade e sustentabilidade de um edifício. Nela estão referências, por exemplo, de quanto tempo deve durar sistemas como revestimentos externos, pisos, paredes, coberturas, trazendo também os parâmetros de manutenção para que essa durabilidade seja atendida.


Trata também da estanqueidade do edifício, ou seja, orienta que esquadrias devam ser estanques a água de chuva assim como as coberturas. Os outros critérios abordados na NBR15575 são a segurança estrutural, segurança contra incêndio, segurança no uso e operação, ergonomia, qualidade do ar, acessibilidade, impacto ambiental e desempenhos térmicos, lumínicos e acústicos.


Durante esse período da epidemia do COVID 19 o uso da casa tem sido intenso e algumas ausências de desempenho estão sendo evidenciadas. O isolamento acústico tem sido a maior das reclamações. Ruídos vindos de apartamentos vizinhos estão incomodando além do normal, uma vez que precisamos de trabalhar, estudar, descansar e nos divertir dentro da nossa casa. O simples caminhar no andar de cima pode incomodar.


A norma de desempenho apresenta critérios mínimos de atenuação de ruídos dessa natureza, assim como os ruídos provenientes do exterior do edifício e dos equipamentos hidrossanitários. O morador não deve ouvir o ruído do fluxo de água enquanto dorme e o vizinho aciona a descarga, por exemplo.


Alguns tipos de incômodos de ruídos entre vizinhos (acervo Sense Acústica).

Independentemente dessa situação que estamos passando, ruídos são fontes constantes de conflito nos edifícios. A NBR15575 prevê valores de atenuação sonora de acordo com as fontes perturbadoras no entorno como rodovias, linhas de trem ou metrô e edifícios geradores de ruído como escolas, oficinas, etc. Isso vai definir qual é o desempenho de uma esquadria, por exemplo.


Esquadrias “acústicas” são necessárias em situações críticas como, por exemplo, um quarto situado em fachadas de frente a essas fontes, mesmo assim deve ser avaliada caso a caso.


Outros conflitos comuns são os salões de festas e áreas de lazer coletivas. A localização desses ambientes no edifício vai determinar se deve haver mais ou menos investimento em isolamento acústico para evitar problemas de uso. Uma piscina na cobertura por exemplo, pode gerar um incômodo enorme para os moradores do andar debaixo.


O simples saltar dentro da piscina provoca um deslocamento de água que é percebido como ruído de impacto, fisicamente semelhante ao “toc toc” do andar do vizinho de cima.


Os equipamentos como bombas de filtragem, hidromassagem e trocadores de calor, podem gerar vibração na estrutura e transferir o ruído gerado para os andares inferiores. Isso sem falar do próprio fluxo de água desses sistemas que muitas vezes é percebido em quartos que se localizam imediatamente abaixo desses equipamentos.


Elevadores são outras possíveis fontes de ruído. Sua localização e conexão com a estrutura deve ser avaliada.


Piscinas coletivas em coberturas de edifícios podem causar incômodos de ruídos (Fonte: Caderno Lugar Certo, Jornal Estado de Minas).

Mas como isso resolver ou evitar tudo isso? O primeiro passo é pensar em desempenho na concepção do edifício. No caso do desempenho acústico é importante verificar quais são as fontes externas de ruído e localizar espaços sensíveis o mais distante possível.


O mesmo deve se pensar em ambientes de apartamentos distintos, como área ou varandas gourmet e quartos.


A partir dessa análise projeta-se pensando em localizar os quartos – que são os ambientes mais sensíveis – mais distantes dessas fontes. Mas o fator fundamental para a garantia do desempenho acústico são as especificações corretas dos sistemas construtivos e a correta execução.


Uma parede convencional de tijolo de 14cm + acabamento nas duas faces não é suficiente para atender ao desempenho acústico entre quartos de unidades distintas por exemplo.


Já o isolamento do ruído de impacto (o toc toc do andar de cima) muitas vezes só é alcançado com o uso de mantas sob contrapiso. Mas isso não é regra, depende de outros fatores, como área do ambiente inferior e altura do contrapiso, além da especificação da laje estrutural.


Algumas construtoras no Vale do Aço já estão atentas a isso, buscam as especificações corretas e acompanhamento da obra para que os cuidados sejam tomados para garantia do desempenho dos sistemas construtivos.


Alguns edifícios no Vale do Aço que buscam o atendimento ao desempenho acústico (acervo Sense e Construtoras WR, Felix e Raposo)

Todos esses cuidados com o projeto, obra e execução são benefícios não só para quem compra, mas para quem incorpora, constrói e comercializa. É direito do consumidor e gera credibilidade entre as partes e valor para o imóvel, da mesma forma como pensamos na compra de um carro baseado em desempenho, conforto e segurança.


(*)Danielly Garcia possui doutorado em Engenharia de Estruturas pela UFMG (2011), mestrado em Engenharia de Estruturas e Acústica de Edificações pela UFMG (2004) e graduação em Arquitetura e Urbanismo também pela UFMG. Possui 13 anos de experiência em docência em ensino superior em Arquitetura e Urbanismo, nas áreas de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo e Atelier de Projetos.


Foi Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UNILESTE. Foi sócia Fundadora do Instituto Box de Arquitetura e Urbanismo. É proprietária da Sense Acústica e Arquitetura onde atua como arquiteta consultora em acústica. É membro consultor da SOBRAC (Sociedade Brasileira de Acústica).

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