Esculturas Meandros 70 anos Coronel Fabriciano

Introdução
Coronel Fabriciano está inserida no relevante e estratégico complexo industrial do Estado de Minas Gerais e do país, experimentando transformações urbanísticas e ampliando o tecido urbano em função de áreas eminentemente residenciais e comerciais.
A forma da cidade é sempre a forma de um tempo da cidade, e existem muitos tempos na forma da cidade. No próprio decorrer da vida de um homem, a cidade muda de fisionomia em volta dele, as referências não são as mesmas. (ROSSI, 1995: p.57).
Nos muitos tempos de Coronel Fabriciano não houve a adoção de um plano diretor e os primeiros núcleos urbanos foram surgindo espontaneamente e tudo se convergia para a proximidade da Estrada de Ferro Vitória Minas, instalada em 1922, margeando o Rio Piracicaba.
Desta forma se consolidou um núcleo urbanístico labiríntico efervescente como lugar dos acontecimentos e das possibilidades, tornando-se a primeira cidade da Região, quando ainda não se vislumbrava a Região do Vale do Aço.
Devido sua centralidade geográfica e a E.F.V.M., Coronel Fabriciano foi a cidade na qual desembarcou os ideais de um complexo siderúrgico e permaneceu como cidade sede para todas as demandas na construção da primeira siderúrgica Cia. Aços Especiais Itabira (1940) e, posteriormente, a instalação da Usiminas (1960).
Assim, Coronel Fabriciano vivenciou por décadas um período aurífero comercial, mas sem comprometimento com o planejamento urbano, conformando-se num labirinto multicursal.
À medida que nos entornos da Cia Aços Especiais Itabira, atual APERAM e da USIMINAS foram surgindo núcleos urbanos para abrigar o proletariado ampliaram-se urbanisticamente como Distritos de Coronel Fabriciano até a emancipação de ambas nos idos de 1960, como Timóteo e Ipatinga.
Ainda assim tudo e todos se convergiam para Coronel Fabriciano onde a dinâmica comercial era mais diversificada, permanecendo como lugar dos acontecimentos e dos mais relevantes eventos, tendo em vista a rigidez das duas cidades industriais, valendo ressaltar, no período da ditadura militar.
Nessa ocasião Coronel Fabriciano experimentou um grande período de prosperidade e através de empreendedores visionários foi surgindo a denominação Vale do Aço, em logomarcas, etc., e rapidamente se conformou a Região do Vale do Aço.
Como se pode observar, Coronel Fabriciano, ao longo de sua história manteve sua tendência labiríntica, constituindo-se numa estrutura urbana caótica onde a cidade distorce as relações entre ocupação, arquitetura, urbanismo e geografia.
Estamos no século XXI e Coronel Fabriciano celebra seu jubileu de 70 anos de existência e o Prefeito Marcos Vinícius da Silva Bizarro deseja comemorar, entre outros eventos, a instalação de uma escultura urbana como marco desse tempo.
Proposição I
A escultura urbana ora apresentada foi idealizada a partir de forma plástica abstrata, porém, com um forte apelo à malha urbana onde estará inserida, lembrando sua centralidade geográfica e suas potencialidades turísticas.
Na base um círculo que remete sua importância central, geográfica e histórica na Região do Vale do Aço e pelas décadas de quando o mundo ainda era cíclico, com suas peculiaridades e originalidades, com grandes características cidades históricas e/ou balneárias, que não se confirmam na malha urbana.
A partir do círculo desdobram-se sete meandros labirínticos em alusão ao jubileu de 70 anos da cidade, cuja conformação plástica remete à paisagem urbana labiríntica numa soma de fragmentos históricos sócio-artístico-cultural-comercial, ocorridos na cidade, que a consolidou potencialmente como comercial e de serviços.
Os meandros são provocativos e assimétricos, promovendo, porém, movimento e sensações inusitadas e múltiplas às inúmeras visadas que o lugar possibilita aos transeuntes que circulam a localização.
No último meandro as ondulações são mais acentuadas indicando as potencialidades turísticas do município oriundas da Serra dos Cocais, ou seja, suas belas e irregulares montanhas e altitudes, com inúmeras quedas d’águas, que já estão sendo adensadas por casas de campo, sítios, residências, com trilhas que convidam a caminhadas, bikers, motociclistas e uma variedade de eventos, que podem e devem ser potencializados, mas sem perder o sentido de preservação ambiental e de sustentabilidade.

Figura 01 – Vista Superior – Design gráfico DUE ARQUITETURA.2019

Figura 02 – Vista Frontal – Design gráfico DUE ARQUITETURA.2019

Figura 03 – Vista Lateral – Design gráfico DUE ARQUITETURA.2019
Proposição 2
Uma escultura abstrata, também com formas plásticas orgânicas, fazendo alusão aos setenta anos do Município de Coronel Fabriciano.
Primeiramente, utilizou-se formas geométricas e a partir de um círculo (zero) e fez-se um recorte com o número sete, criando o número 70 estilizado. Contudo tirou-se partido do número sete como um meandro orgânico.
O meandro se repete de forma irregular repetidamente dentro da circunferência como referência à malha urbana labiríntica da cidade.
A repetição da forma também remete ao estranhamento e às possibilidades de uma cidade cuja centralidade geográfica se conformou numa malha urbana labiríntica e com pequenas e poucas ilhas ortogonais.
Aqui, vale ressaltar que o termo centralidade pode sugerir paradoxos à constatada paisagem urbana labiríntica, haja vista que num espaço labiríntico não há centralidade, mas sim inúmeros e pequenos centros. Contudo, centralidade nesse caso se refere à situação geográfica do município na Região do Vale do Aço, e por ter sido e continuar sendo a área mais movimentada, efervescente de Coronel Fabriciano e onde está instalado o centro do poder político, além de repletas possibilidades na cidade.

Figura 04 – Vista Lateral 01 – Design gráfico DUE ARQUITETURA.2019

Figura 05 – Vista Lateral 02 - Design gráfico DUE ARQUITETURA.2019

Figura 06 – Vista Frontal - Design gráfico DUE ARQUITETURA.2019
Conclusão
Como muitas outras cidades labirínticas, Coronel Fabriciano surgiu espontaneamente sem mapa pré-determinado. O registro da experimentação neste caso só pode ser apreendido no caminhar e nos movimentos, sendo da ordem das sensações hápticas: tátil visual (LEÃO, 2002:73), ou seja, um espaço arquitetônico que permite uma relação sinergética com as sensibilidades corporais e, assim produtora de novas sensações e possibilidades no ato da experimentação pelo fruidor.
Muitas cidades têm seu relevo natural como referência forte na imagem. Ouro Preto e Olinda, por exemplo, exploram de forma significativa as visadas urbanas através de seus percursos e meandros labirínticos.
Contudo seria insensato compará-las à Coronel Fabriciano, que até os dias atuais opta por lógicas contrárias ao seu relevo, remetendo sempre à imagem do labirinto da favela, proposta por Paola Berenstein Jacques e sua análise estética da favela.
“Poderíamos efetivamente dizer que o Labirinto é sempre, de alguma maneira, barroco ou, seguindo os termos de Jean-Pierre lê Dantec, “barroquista”. Poderíamos ver seus meandros como dobras de vestimentas, e de tecido; o Labirinto seria o autêntico tecido urbano livre. ” (JACQUES, 2001: p.96”
Infere-se, portanto, que as barrocas Ouro Preto e Olinda quardam uma remota e única similaridade com Coronel Fabriciano: o fato de terem nascido espontaneamente, livres de arquétipos urbanísticos o que não quer dizer que inextiu uma lógica interna de ocupação urbana.
Entretanto, o que se assiste hoje na cidade é sua conformação arquitetônica labiríntica e improvisada, o que permite uma interpretação significativa dos percursos, meandros e bifurcações no labirinto da favela na visão de Jacques e sua análise sobre os Labirintos.
A ausência do mapa à priori, contribuiu para que Coronel Fabriciano surgisse do improviso, e, portanto, destituída de parâmetros pré-estabelecidos como, por exemplo, o modelo cartesiano da maioria das cidades atuais e a partir de premissas do movimento modernista como aconteceu com suas vizinhas Timóteo e Ipatinga, que exploraram convenientemente as regras da perspectiva monumental e uniforme.
Estas diferenças evidenciam e acentuam ainda mais uma percepção do espaço urbano de Coronel Fabriciano como Labirinto e por esta razão as esculturas foram idealizadas à partir de meandros labirínticos no intuito de cristalizar na malha urbana a ideia de labirinto na visão e no sentido que o artista visual e escritor Hélio Oiticica vislumbrava, ou seja, o labirinto como lugar dos acontecimentos, do ritmo, da dança, da festa, do lúdico, do entretenimento e seus meandros como “autêntico tecido urbano livre”, como bem analisou e inferiu Paola Berenstein Jacques, já citada anteriormente.
Especificações Técnicas
Para execução das esculturas sugere-se a utilização de chapas de Aço Cortén Naturaço, fabricado pela USIMINAS, que contém elementos que melhoram as propriedades anticorrosivas, que dispensa pinturas, pois tem como principal característica a formação de uma camada de óxido com nuances ferrugem avermelhada quando exposto à atmosfera.
Os benefícios do Aço Cortén Naturaço são muito claros aos olhos de profissionais. É muito mais resistente que os aços convencionais, de longa duração, opção econômica e facilmente reciclável. A execução da primeira opção exige engenheiro para cálculos de espessura, largura e sustentação dos meandros na base, diretamente no solo.
Projetos
FERNAND LODI
Artista Visual/Pós Graduado Arquitetura Contemporânea
DESIGN GRÁFICO
Thauan Natividade/Batista de Sousa
DUE ARQUITETURA
Prafia
JACQUES, Paola Berenstein. O Labirinto (A Estética da Ginga – a arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra/Rio ARTE, 2001)
LEÃO, Lúcia. A Estética do Labirinto. São Paulo: Ahembi Morumbi, 2002.
LODI, Fernand. Intervenções urbanas no Labirinto de Coronel Fabriciano – Trabalho como requisito à obtenção do título de especialista em Arquitetura Contemporânea e suas Interfaces com a Arte e a Tecnologia, no Unileste – 2003.
ROSSI, Aldo. A Arquitetura da Cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995.