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  • Foto do escritorFernand Lodi

Re-Memorando



Exposição de fotos em cartaz na Estação Memória conta a trajetória dos

“Re-Memorando se inspira na filosofia de Walter Benjamin, conta a trajetória do grupo a contapelo, ou seja, do ponto de vista dos vencidos, que tendem a desaparecer da história oficial”.


Assim, Wenderson Godoi abriu uma longa conversa sobre a exposição do Hibridus Dança, grupo do qual ele é co-fundador, acrescentando que “a tendência é que os vencedores invisibilizem os perdedores”, parafraseando o filósofo.


A Mostra reúne dezenas de fotos de trabalhos realizados pelo Híbridus em 20 anos, “uma história que teve sua raíz plantada há 24 anos com o Grucon – Grupo de União e Consciência Negra de Ipatinga”, recorda Wenderson Godoi.


Retomando a ideia de Benjamin, Godoi destaca que a mostra traz fragmentos das lutas do grupo travadas contra as condições de vida dos artistas vindos de regiões periféricas de Ipatinga e que poderiam ser considerados como vencidos, segundo suas condições de vida, sua consequente invisibilidade, “até que a arte chega para eles.


O nosso primeiro projeto nasceu dentro de um movimento social. Era um projeto artísitico, cultural e social desenvolvido com pessoas vindas do Vale do Sol, do Nova Esperança, do Veneza II e de outros bairros fora do centro.


Começamos com dança afro e, depois, passamos a trabalhar com teatro, artes plásticas, artes visuais e com a dança contemporânea, que englobava todas as frentes. Esse projeto permitiu que jovens de periferia pudessem sonhar com uma vida melhor”, relata Wenderson Godoi.


Dentre os artistas que sairam da periferia para integrar o Hibridus, está Rosângela Solidade, que já se apresentou dançando em mais de 20 países, “uma menina tímida, mas que se sobressaiu muito bem na dança”, observa Luciano Botelho, parceiro há 24 anos de Godoi, “da vida e da arte”, frisa.


Ex-operário da Usiminas, onde trabalhou por 16 anos, Luciano conta que chegou a ter receio de deixar o emprego fixo e abraçar a arte, mas reconhece que essa atitude foi necessária para que ele passasse a se dedicar mais à arte. “Eu levava uma vida paralela.


Trabalhava na empresa e dedicava o tempo que me sobrava ao Hibridus. À época, conheci Marcelo Castilho, o maior crítico de dança que Minas.


Ele me disse que eu precisava levar a arte para a Usiminas e levar a empresa para o meu trabalho.


Mas optei por viver da arte, fiz residência fora do Brasil. Fui pra Coreia do Sul, China, Alemanha e para outros países, sempre encantado com a transformação das nossas vidas a partir da arte.

Apesar do cenário caótico que vivemos no Brasil, estamos perseverando, somos resilientes, nos dedicamos muito à arte para sermos melhores a cada dia”.


Godoi observa que, há tempos, todo adolescente que pretendia fazer faculdade federal, ia para fora do Vale do Aço e costumava não voltar para a região.


“Nós decidimos fazer a arte aqui mesmo, dançar aqui, onde avançamos e nos emocionamos com isso, vendo a transformação de corpos por meio da dança, de pessoas”.


Em 20 anos, o Hibridus Dança apresentou 14 espetáculos, além de outros exibidos nos tempos do Grucon. “Tivemos a felicidade de levar nosso trabalho, não só ao público do Vale do Aço, mas de outros estados brasileiros e para o exterior, como a Argentina, China, Alemanha e Itália”, conta Godoi.


Além do grupo, o espaço Hibridus é referência. O local sedia seminários, aulas de pilates, dança contemporânea, yoga, forró, exibições de vídeos, e abriga grupos que não têm sede própria.


“O Hibridus é um guarda-chuva, um abrigo das artes, dos artistas, um espaço que pulsa”, poetiza Godoi. Luciano Botelho, por sua vez, define o Hibridus como uma ode à vida que se funde com a arte. A vida é a arte e, arte, vida. O Hibridus é tudo isso”, pontua.


Em relação aos impactos da crise sanitária nas atividades do Hibridus, Godoi considera ter sido privilegiado com patrocínios da Aperam, que em 2020, deu início à parceria com o grupo, e da Usiminas, aliada do Hibridus desde 2002.


“Graças a esses patrocínios, vimos atravessando este período crítico, adaptando nossas atividades para o universo virtual, pagando as despesas de manutenção do grupo e contemplando artistas com recursos liberados a partir de concovatórias, de editais”.


Luciano comenta que, em meio a tantas incertezas geradas pela pandemia, o Hibridus mantém a certeza de que vai continuar o trabalho a cada dia mais fortalecido pelo desejo de fazer arte.

“Inclusive com parcerias, como a que firmamos com o grupo de Berlim, Alemanha, Chaim Gebber Open Scence, que já dirigiu o grupo e ministrou uma residência artística em Ipatinga.”


O resultado do trabalho foi exibido em novembro passado no Teatro Zélia Olguin, a primeira apresentação realizada presencialmente desde o início da pandemia.


Re-Memorando integra a série de mostras artísticas selecionadas por meio do edital Exposição Tradição e Contemporaneidade, sendo que a próxima exposição será encerrada com o ensaio fotográfico Aves Invisíveis, de Fernanda La Noce, a partir do próximo dia 21, na Estação Memória Zeza Souto, no Centro de Ipatinga.


A Exposição Tradição e Contemporaneidade, concebida com o propósito de ocupar os espaços da região com manifestações artísticas e culturais que despertem na comunidade o sentimento de pertencimento, valorização e salvaguarda da memória do patrimônio cultural material e imaterial, é um dos microprojetos apresentados e que se concretizou por meio do Edital 01/2021, Modalidade Seleção de Propostas – OSC – Clube Dançante Nossa Senhora do Rosário Congado do Ipaneminha, junto à Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais.


A produção leva a assinatura de Shirley Maclane e Marlene Brum; Rosane Dias assina a curadoria e Goretti Nunes, a assessoria de comunicação.


SERVIÇO


Re-Memorando fica em cartaz até o próximo dia 17 (quinta-feira), na Estação Memória Zeza Souto, de 8h às 18h. É obrigatório o uso de máscara na área da mostra. Entrada franca.


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